Aumento do combate ao comércio ambulante gera conflito nos trens da cptm
Nos dias 13 e 20 de dezembro de 2019 ocorreram dois episódios de depredação respectivamente na estação Primavera-Interlagos e Autódromo da linha 9 esmeralda da CPTM. O conflito aberto entre vigilantes e marreteiros (ambulantes) não era tão comum na linha 9 como é em outras linhas, devido a existência de um certo equilíbrio e códigos de convivência entre os dois grupos. Marreteiros não vendem quando há vigilante nos trens e os vigilantes não agridem marreteiros por qualquer motivo. Esse respeito vem do fato que todos estão lá trabalhando e o conflito aberto se mostra pior pra ambos os grupos.
No entanto desde que assumiu a presidência da CPTM, em janeiro de 2019, Pedro Moro vem aumentando a repressão contra os ambulantes. No início do ano, Moro determinou que a maioria dos vigilantes que antes ficavam nas estações fossem para “o trecho” (nome dado para a função de rondar os trens apreendendo mercadoria dos ambulantes). Isso desagradou tanto os vigilantes, que preferem em sua maioria as estações que o desgaste das apreensões; desagradou os agentes operacionais da CPTM, que se sentiram desprotegidos pois diminuiu o número de vigilantes nas estações; e desagradou os marreteiros que sofreram um aumento da repressão. Por perceber que os interesses desses grupos de trabalhadores convergiam, um grupo criou um panfleto que alertava sobre a estratégia do governo de fazer guerra nos trens da CPTM, e sugeria ideias para deslocar o conflito para as catracas (por exemplo incentivando catracaço), ou a venda de produtos próximo às bilheterias para obrigar a CPTM a recuar na ação. Não aconteceu uma resistência organizada, mas o comércio ambulante continuou, apesar do aumento das apreensões¹
No fim do ano, a situação voltou a esquentar por conta da maior intensidade das apreensões. Os dois episódios são reflexo dessa guerra promovida especialmente pelo presidente da CPTM. “Uma hora a coisa estoura, uma hora os marreteiros cansam de perder mercadoria e de apanhar e vão pra cima” – nas palavras de um marreteiro da linha 9. Sobre os dois episódios em questão, é preciso pontuar o fato de serem conflitos com equipes de vigilantes especialmente truculentos. A equipe do “Bigode”, como é conhecido um dos vigilantes mais violentos da CPTM (famoso por agredir marreteiros sem motivo), vem sendo responsável por inúmeros desses conflitos. Claro, com a conivência dos supervisores da segurança que incentivam essas práticas e vem selecionando os vigilantes especialmente briguentos para esse tipo de equipe e deixando os mais tranquilos nas estações.
Sobre as depredações, muitos marreteiros consideraram uma demonstração de fraqueza mais que de força, porque ao invés de responder contra a equipe do Bigode, eles depredaram as catracas e bilheterias. Isso queimou a imagem dos marreteiros frente a população e não ameaçou os vigilantes mais linha-dura. Mais eficaz teria sido, segundo alguns, ir pra cima dos vigilantes mais violentos da equipe, que demonstraria força e daria o recado de que vigilante violento tem o que merece. Vale ressaltar que mesmo com a escalada dos conflitos, o grosso dos marreteiros continua não tendo problemas com a maioria dos vigilantes, o ódio é contra os vigilantes ‘atrasa lado’ e contra o sistema.
¹ https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/08/05/apreensoes-na-cptm-avancam-492-no-primeiro-semestre-de-2019.htm