Uma tragédia anunciada: o CMEI primeiros passos

10 DE ABRIL DE 2018

QUEM AJUDA OS QUE AJUDAM?

FUNCIONÁRIOS DENUNCIAM ALAGAMENTO DO CMEI PRIMEIROS PASSOS COM CRIANÇAS DENTRO E A SOBRECARGA DE TRABALHO

por trabalhadora do CMEI

Na última quinta-feira, 9 de abril, a chuva provocou uma grande inundação no Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Primeiros Passos, localizado no Setor Sul em Goiânia. O fato ocorrido não é meramente um acidente, pois há anos o Cmei tem notificado o acúmulo de água e falta de estrutura no local. Sempre que chove há uma tensão vivida pelos funcionários que trabalham no local. Essa foi a primeira vez que a inundação ocorreu durante o atendimento e com cerca de 100 crianças no local. Durante o episódio o corpo de bombeiros atendeu ao chamado e esteve no local, foram os responsáveis pelo suporte e retirada das crianças.

Entretanto, nenhum pedido de interdição foi realizado, do mesmo modo, nem a equipe de estrutura da prefeitura que esteve no local realizou. A única intervenção física realizada foram cerca de 5 buracos em um dos muros da instituição, com cerca de 10 cm cada, certamente insuficientes e que não resolvem o problema no local, de modo que crianças e funcionários continuam sujeitos a tal episódio.

No momento do ocorrido haviam crianças entre 1 e 5 anos, mais de 100 crianças para cerca de 15 funcionários socorrerem enquanto os bombeiros não chegavam. O Cmei tem convivido com o déficit de funcionários, existem crianças com necessidades específicas e uma criança com necessidades especiais sem o acompanhamento de um cuidador. A SME está ciente e tem prorrogado o envio de pessoas para suprir a demanda.

Além da estrutura que não é adequada possibilitando acúmulo de água e o déficit de funcionários, a água trouxe para dentro da instituição sujeira e possíveis contaminações através de ratos, fezes, esgoto. No entanto, a prefeitura por meio da SME não ofereceu suporte em relação a limpeza do local, sugeriu que os professores e auxiliares limpassem o local e procurassem uma equipe para dedetizar, esse fato é bem comum, e o pior é que nas últimas vezes em que a equipe de trabalho do Cmei precisou se envolver com esse tipo de limpeza e ainda tiveram de repor o dia trabalhado, uma vez que a secretaria não considerou como dia letivo.

 RELATO SOBRE O ALAGAMENTO QUE COLOCOU EM RISCO A VIDA DE DEZENAS DE CRIANÇAS NO CMEI PRIMEIROS PASSOS

por outra trabalhadora do CMEI

13/04/2018

Quando a água entrou em nossa sala, pegamos no colo os alunos que não sabiam andar. Os pequenos, mas que já andavam, escorregaram diversas vezes, alguns até beberam a água de esgoto que estava ali, por não entenderem os riscos.

Os alunos mais velhos (4 anos) que tinham sido levados pra ficar conosco, pois a sala deles tinha sido a primeira a alagar, se assustaram. Muitos ficaram tentando subir na gente, mas estávamos carregando os menores, não tinha o que fazer.

A sensação era de total impotência e medo do que poderia acontecer. Uma menina de quatro anos me fez prometer que a chuva pararia e que ninguém se afogaria, eu prometi. Mas não era algo que realmente estava em nossas mãos, se a chuva continuasse por muito tempo, as coisas ficariam realmente difíceis.

Depois do choque, começamos a correr e buscar cadeiras para colocar os alunos em cima delas, foi difícil convencer vários pequenos a não descerem dali e não brincarem com aquela água. Eu observava a água subir aos poucos e, enquanto dizia para as meninas que choravam que tudo ia ficar bem, eu tinha minhas dúvidas e só conseguia torcer, do fundo do meu coração, para que aquela chuva parasse.

Depois de um tempo, a chuva parou, nada de grave aconteceu, pudemos trocar as crianças molhadas, pra que não adoecessem. As que estavam assustadas, logo entenderam que a água não subiria. Os bombeiros chegaram, vários pais e o pessoal da empresa vizinha nos ajudaram. Tudo ficou bem, apesar do susto.

Quando chover de novo, o que nos resta é torcer pra que tenhamos sorte, pra que não chova tão forte, que a chuva pare a tempo, pois, torcer pra que essas coisas que não estão sob nosso controle acontecerem, é mais esperançoso do que torcer para que a prefeitura tome alguma providencia na estrutura da escola para mudar e evitar que todos passem pelo transtorno que passamos. Afinal, isso é algo realmente difícil de acreditar.

CMEI PRIMEIROS PASSOS CONTINUA ESPERANDO UMA TRAGÉDIA…

por ainda outra trabalhadora do CMEI

17/04/2018

“De início não acreditamos que seria algo muito grave porque o pequeno prédio do CMEI Primeiros Passos já havia sido alagado outras vezes pela chuva. A estrutura física não possui os aspectos básicos para escoar água. Foi tudo muito rápido e, em pouco tempo, estávamos com mais de 60 crianças, dentre 10 bebês, e mais de 10 funcionários, correndo sério risco de vida.

A água da chuva; que arrastou detritos de bueiros e outras sujeiras invadiu todo o CMEI e subiu muito. As crianças choravam apavoradas e nós, os adultos, mesmo com muito medo, tentávamos manter a calma e pensar em maneiras de deixa-las a salvo. A aflição daqueles momentos ficará gravada: a chuva não parava e a água não parava de subir. Colocamos algumas crianças sobre as mesas e rezamos muito para que a tragédia não acontecesse. Ver os bombeiros chegando foi um alívio. Aquecemos as crianças e esperamos os pais busca-las. Eles chegaram chorando, tremendo e agradecidos por verem os filhos bem.

Até hoje temos crianças que começam a passar mal quando a chuva começa. Nós também. Porque sabemos que tudo pode se repetir com final trágico. O prédio continua sem nenhum tipo de adequação para escoar água. Ficamos indignados com o descaso do poder público que demonstra total descaso para com a educação, para com a vida. Os governantes se preocupam muito em recolher impostos e ignoram, de forma covarde, as necessidades mais básicas do cidadão. Por isso que cada um de nós precisa utilizar todos os canais de comunicação, como esse, para denunciar esse tipo de absurdo”!