Histórias Invisíveis: Suzana Benavides da United Voices of the World

Eu nasci no Equador em 1975. Estou na Inglaterra por oito anos agora. No meu primeiro emprego em Londres eu limpava escritórios de 4h da manhã até as 7h e depois trabalhava em um hotel de 8 da manhã até as 22h. Trabalhei assim por três meses até conseguir trazer minha filha pra Londres. Decidi procurar um emprego com menos horas de trabalho e encontrei trabalho na Topshop na Oxford Street. Mas eu tive problemas com a Britannia, a empresa de terceirização contratada pra limpar a loja. Um supervisor estava me constrangendo, e quando eu o confrontei ele me disse que mulheres só servem pra ter filhos e me chamou de asno. Quando eu discuti de volta, ele ficou com raiva e chutou um balde em mim.

Ph: GORDON ROLAND PEDEN

Uma colega me contou sobre um advogado chamado Petro Elia da United Voices of the World (UVW), um sindicato que representate imigrantes e trabalhadores precários. Eu liguei pra ele e, pela primeira vez, senti que alguém estava me ouvindo. Eu havia tido experiências ruins com outros sindicatos, que tinham me dito que eu tinha que esperar seis meses pra pegar o meu caso ou que eu não podia mais fazer nada a respeito. Petros me disse que algo podia ser feito sim. E naquele momento eu percebi que sim, existe esperança.

Depois de sair de um atestado de sete meses por depressão, voltei ao trabalho. Meu antigo supervisor começou a querer me constranger de novo, mas dessa vez eu não estava sozinha; eu estava no sindicato. Eu contei a Petros o que estava acontecendo e mandamos uma carta pra empresa. Eu encontrei o dono da Britannia e a resposta dele foi “Por que você foi procurar um sindicato? Se você tivesse me ligado, eu teria atendido na hora o que você pedisse e precisasse”. Eu disse a ele que eu havia tentando entrar em contato com ele por três anos, escrevi cartas com a ajuda do meu médico. Mas apesar das promessas do dono, nada foi feito pra resolver meus problemas e o constrangimento continuou.

Eu estava deprimida e não queria continuar trabalhando na Topshop. Eu disse a Petros que queria sair e ele falou ‘Já que você está saindo de qualquer jeito, por que não aproveitamos essa oportunidade e falar logo tudo o que você tem pra dizer?’ Eu decidi que não tinha nada a perder.

Lançamos uma campanha exigindo pagamento justo e contratos com direitos para todos que trabalhavam horário integral – a empresa Britannia alegou que a campanha não era válida porque 13 pessoas tinham assinado uma carta afirmando que estavam satisfeitos com aquelas condições de trabalho, mesmo que elas tenham assinado essa carta em troca de mais horas de trabalho. Em uma reunião em particular comigo, o empresário disse, ‘Susana, eu não quero que você continue com qualquer campanha na minha empresa, então me diga o que você quer e nós te daremos. Quanto você quer? Você pediu um emprego de segunda à sexta, você terá isso. Eu vou te dar um cargo de supervisora’. Eu  disse a ele que a campanha não se chamava Campanha pela Susana Benavidas. Era para todos os trabalhadores da empresa.

Depois disse, peguei um feriado. Quando eu voltei, estava imediatamente suspense. Comecei a trabalhar na United Voices of the World. Além de aconselhamento legal, a UVW também oferece apoio emocional e psicológico. Tentamos conscientizar nossos membros que não é um serviço. Queremos que as pessoas se envolvam no sindicato e reconheçam que é uma comunidade para a união das pessoas – pessoas que querem justiça, que querem se organizar para sabermos de nossos deveres e direitos, pessoas que querem ser ouvidas e que querem sair da sombra.

Traduzido e adaptado por Um Invisível com autorização do autor da entrevista e da fotografia. Agradecemos pela autorização. Fotógrafo: GORDON ROLAND PEDEN. Você pode verificar essa e outras histórias em inglês no site: https://www.invisiblebritain.com/